terça-feira, 30 de maio de 2017

Meninas más

Transparência




Ainda falando de anedotas. Há alguns anos, jornais do Rio de Janeiro noticiaram a prisão de um estelionatário português, morador da Zona Norte da cidade, que havia se apossado de um talão de cheques alheio e feito umas comprinhas, mas não se recusara a atender ao pedido de uma vendedora para que anotasse seus dados no verso do cheque. Como se pode imaginar, a polícia não teve trabalho para chegar à casa do sujeito e recolhê-lo para os procedimentos de praxe. À época não faltaram, claro, as previsíveis piadas maldosas dando conta de um suposto déficit intelectual dos nossos irmãos lusitanos. Nadando contra essa corrente, comentei com alguém que o episódio, se demonstrava algo, era não a burrice mas a espantosa honestidade dos portugueses: afinal, pelo que se via, em Portugal até mesmo o golpista agia com lisura!

Digo isso porque acabo de ler que, em suas diligências na residência do pobre senador afastado Aécio Neves na av. Vieira Souto, a Polícia Federal teria encontrado comprovantes de depósito identificados como “Cx 2”. A defesa do investigado, como lhe compete, já se apressou em afirmar que “Cx 2” não significa “Caixa 2”, como vocês estão pensando. Aliás, não sei o que pensar a respeito: estamos diante de um caso semelhante ao do supracitado Joaquim, ou de algo mais sofisticado, como uma tentativa de imitar a carta roubada do conto de Allan Poe, que passa despercebida pela polícia por estar demasiado à vista?

Sorry, dear

Gosto muito de uma anedota envolvendo o lexicógrafo estadunidense Noah Webster, pai do famoso dicionário que leva seu nome. Flagrando-o na cama com a secretária, sua esposa desabafa:

“-Webster, eu estou surpreendida!” 
Embora em situação desfavorável, o marido não resiste a corrigi-la: 
“-Desculpe, querida, mas você está surpresa. Surpreendido fui eu.”

Lembrei disso ao ler no Valor de hoje (26/5) a seguinte coisa:

"Naquela quarta-feira à noite em que considerou renunciar, Temer sentiu que era alvo de uma indignidade. 'Não vou me submeter a um linchamento político', disse a interlocutores próximos. 'Eu tenho uma biografia', ressaltou, mencionando suas obras de direito constitucional e a quantidade de exemplares vendidos. 'Já dei aula para 50 mil alunos, já fui lido por mais de 400 mil pessoas.'"

Ora, vamos e venhamos: isso não é biografia, é bibliografia.