Desde
a Copa de 2014, deixei de acompanhar os jogos da seleção brasileira masculina
de futebol. A razão para isso é aversão à indignidade. Não apenas a indignidade
da corrupção desmedida, mas – em primeiro lugar – a do futebol apresentado em
campo. Após a Copa de 1994, com o hiato da conquista de 2002, sofremos uma
sequência de derrotas indignas. Foi assim em 98, contra a França; em 2006, de
novo contra a França; em 2010, contra a Holanda; culminando no apoteótico
vexame contra a Alemanha, o Mineiraço, no ano passado. Indigno não é perder,
mas mostrar-se aquém do combate. É, sobretudo, entregar os pontos, perdendo sem
lutar – como o escrete canarinho fez em 98, 2006, 2010 e 2014.
Há
derrotas dignas, até digníssimas. A Argentina, em 2014, foi valente no
confronto com a favorita Alemanha: jogando mais com garra que com técnica, os
hermanos lutaram até o fim e perderam na final por apenas 1 x 0. A
surpreendente Costa Rica, também aguerrida, bem organizada, perdeu para a
Holanda nos pênaltis. De volta à casa, os jogadores desfilaram em carro aberto
pelas ruas de San José, aclamados pela multidão.
Nos
anos recentes, duas partidas de futebol me emocionaram especialmente. Na última
Copa das Confederações, os japoneses fizeram a melhor partida de sua história,
em Recife, contra a poderosa Itália. Dominaram os italianos, colocaram na roda
seus experientes jogadores, foram impetuosos, estiveram em vantagem mas...
perderam o jogo por 4 x 3. Faltou-lhes um pouco mais de malícia e de brilho
individual. Foi um confronto épico: exaustos todos, os europeus saíram de campo
aliviados e os asiáticos, inconsoláveis. E na Copa de futebol feminino de 2011,
na Alemanha, as brasileiras enfrentaram na final as norte-americanas, para quem
haviam perdido na primeira fase. Dominaram o jogo, tiveram mais posse de bola e
oportunidades, explorando o talento da Marta... mas esbarraram no próprio
nervosismo e na regularidade das gringas, que aguentaram a pressão. Foi uma derrota
doída, mas digna.
Saindo
do futebol para a política, e para o aparente fim de ciclo do chamado
lulopetismo, é triste que os méritos inegáveis do time adversário, a direita,
sejam ofuscados pelos erros crassos da esquerda governante: a crença na conciliação
permanente; a covardia perante o desafio da comunicação; a leniência com a
corrupção; a renúncia ao debate econômico. Contra tudo o que desejaríamos,
vemos a economia conduzida pela tacanha ortodoxia liberal e a política, pela
fisiologia desabrida do pemedebismo. Nesse quadro de permanente renúncia e
envilecido acovardamento, permite-se até que um general torturador seja
sepultado com honras militares. E pendura-se no pescoço de hienas famintas o
colar da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul.
Assim
como é bisonho, em jogos da Seleção, reclamar que o adversário joga na retranca
ou coisa parecida, não tem cabimento se queixar de que a direita age como
direita, de que ela tem noções claras de tática e estratégia e competência para
executá-las. A atual administração da Câmara dos Deputados, eivada de
maquiavelismo, tem mostrado didaticamente que o choro é livre, mas não adianta
espernear.
(Ilustração: Rubens Gerchman)