Se vivêssemos numa cultura em que fosse
difundido o respeito ao próximo, o humor tolo e grosseiro do Pânico na
TV poderia, na minha opinião, ter um caráter transgressor - e, desse
ponto de vista, talvez até interessante (afinal, o contraste é uma bela arma do humor).
Mas não é esse o caso. Aqui, na terra do 'farinha pouca, meu pirão
primeiro', onde pouco se diz 'por favor', 'obrigado', menos ainda
'desculpe', e os espaços de uso coletivo costumam ser utilizados do jeito que a
gente sabe, o que os caras fazem parece apenas uma caricatura do nosso
comportamento cotidiano. Uma caricatura tão sutil, isto é, tão
próxima do original, que nem passa como tal. Da mesma forma, a
contra-intimidação de Gerald Thomas, enfiando a mão por baixo do vestido
da menina, longe de transgressora, é apenas uma versão - talvez mais
ousada, mas não necessariamente - do comportamento usual de muitos
homens na balada. E ilustra, queira ele ou não, a tradicionalíssima
noção de que 'se ela tá vestida assim, é porque tá querendo...'. Ou
seja, aqui onde a regra é a reivindicação cotidiana do direito ao abuso,
o encontro do Pânico com Thomas é simplesmente um espetáculo tedioso,
com sabor de dèjá vu.
Isso mesmo que acho, Pedro. Ótimo comentário. Que bom ver isso em blog de homem. Boa a reflexão também sobre a questão do humor, achei. Um abraço!
ResponderExcluirObrigado, Renata. Acho que tiramos impressões semelhantes do episódio.
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