A recente tragédia de Paris, ocorrida quase ao mesmo tempo que a de
Beirute e a de Mariana, detonou um animado - para não dizer inflamado - debate
sobre o tema da indignação seletiva. Não é a primeira vez que isso se dá, e
provavelmente não será a última. A discussão, se bem que não pareça muito
produtiva, tem um aspecto positivo, na medida em que revela um incômodo, um
desconforto com a ideia de que certas vidas humanas têm maior valor que outras,
e por isso merecem maior cuidado e maior pranto. Além disso, há a amarga
constatação de que essa valoração é marcada por diferenças étnicas e
disparidades econômicas - ecos da "conquista da Terra", que, como bem
disse Joseph Conrad, "na maior parte consiste em tirá-la daqueles que têm
uma fisionomia diferente ou narizes mais achatados que os nossos".
Isso dito, um problema permanece: ora, a indignação é sempre seletiva. Nenhum de nós tem disponibilidade afetiva para se deixar atingir de igual forma por todos os dramas e tragédias que afligem todos os seres humanos - e ainda os outros seres. Somos mais atingidos pelo que nos é mais próximo. Por que Paris nos afeta tanto? Por que é parte do nosso imaginário, de ocidentais (e não só), o que é o mesmo que dizer que é parte de nós. As vítimas massacradas, ou quase, na cidade-luz estavam assistindo a um show, relaxando num café, desfrutando de um restaurante, torcendo no estádio. Como disseram alguns comentaristas: os jihadistas alvejaram um certo modo de vida.
Mas não é cruel que um massacre perpetrado no nordeste do Quênia ou na Nigéria passe quase despercebido, e inclusive dure pouco no noticiário ("é solitário morrer na África", constatou o editor de um jornal namibiano)? Sim, é cruel. Em face disso, o que podemos fazer? Podemos buscar expandir nosso imaginário, nossa sensibilidade, abrindo espaço para outras narrativas, outros hábitos e culturas, para além da dieta costumeira. Isso precisa ser feito - e para isso é fundamental, inclusive, democratizar os meios de comunicação (esse debate que vem sendo vedado no Brasil). A construção do imaginário há de ser a mãe de todas as táticas políticas.
Ainda assim, talvez não devêssemos ter a ilusão de que um dia amaremos igualmente a humanidade inteira... Ficaremos frustrados com nós mesmos.
Isso dito, um problema permanece: ora, a indignação é sempre seletiva. Nenhum de nós tem disponibilidade afetiva para se deixar atingir de igual forma por todos os dramas e tragédias que afligem todos os seres humanos - e ainda os outros seres. Somos mais atingidos pelo que nos é mais próximo. Por que Paris nos afeta tanto? Por que é parte do nosso imaginário, de ocidentais (e não só), o que é o mesmo que dizer que é parte de nós. As vítimas massacradas, ou quase, na cidade-luz estavam assistindo a um show, relaxando num café, desfrutando de um restaurante, torcendo no estádio. Como disseram alguns comentaristas: os jihadistas alvejaram um certo modo de vida.
Mas não é cruel que um massacre perpetrado no nordeste do Quênia ou na Nigéria passe quase despercebido, e inclusive dure pouco no noticiário ("é solitário morrer na África", constatou o editor de um jornal namibiano)? Sim, é cruel. Em face disso, o que podemos fazer? Podemos buscar expandir nosso imaginário, nossa sensibilidade, abrindo espaço para outras narrativas, outros hábitos e culturas, para além da dieta costumeira. Isso precisa ser feito - e para isso é fundamental, inclusive, democratizar os meios de comunicação (esse debate que vem sendo vedado no Brasil). A construção do imaginário há de ser a mãe de todas as táticas políticas.
Ainda assim, talvez não devêssemos ter a ilusão de que um dia amaremos igualmente a humanidade inteira... Ficaremos frustrados com nós mesmos.
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