segunda-feira, 6 de abril de 2009

Israel, Palestina e o fim da hora contemplativa


A proximidade das eleições israelenses, em contexto no qual crescia o Likud de Benjamin Netanyahu, avançando sobre o governista Kadima (este, crispado de disputas internas, e liderado por um primeiro-ministro, Ehud Olmert, ferido por denúncias de corrupção), a lembrança ainda viva da fracassada campanha contra o Hizbollah no Líbano em 2006 e o apagar das luzes do governo Bush (trazendo incerteza para os fundamentalistas de Tel Aviv)... tudo isso cobrou um alto preço de milhares de palestinos, como o médico Izz el-Deen Abu al-Aish, que perdeu três filhas e uma sobrinha quando sua casa em Gaza foi alvejada por um tanque de Israel, no dia 16 de janeiro último – drama que a TV israelense não pôde censurar.

A carnificina, iniciada em 27 de dezembro de 2008 e encerrada oficialmente no 18 de janeiro seguinte, traduziu-se na morte de mais de 1300 palestinos (civis em sua esmagadora maioria) e pouco mais de uma dezena de israelenses, quase todos militares. Noticia-se, ainda, que resultaram feridos pelo menos cinco mil palestinos.
Face ao eloquente registro de vidas interrompidas e vidas destroçadas; de infra-estrutura arruinada; de destruição de mantimentos enviados pela ajuda humanitária; de ataques a funcionários e a instalações das Nações Unidas e da Cruz Vermelha; evidências de uso de armamentos proscritos (de fabricação estadunidense) como o fósforo branco e outras violações dos acordos de Genebra (como os ataques deliberados a civis indefesos, de que seria exemplo a matança ocorrida no bairro de Zeitun em 4 de janeiro), é difícil apontar um limite que não tenha sido transgredido pelo Estado de Israel nessa ofensiva militar genocida que a imprensa tradicional houve por bem chamar de ‘guerra’. Mesmo o imaginário limite do cinismo foi ultrapassado pela então ministra das Relações Exteriores e candidata a premiê, Tzivi Livni, que sequer esperou esfriarem os cadáveres para declarar: “Este não é mais um conflito entre palestinos e israelenses ou entre árabes e judeus, mas um conflito entre moderados e extremistas”.

Trata-se de cenário em que até os inefáveis comentaristas da reacionária grande imprensa brasileira, embora secundando, com ares doutos, que o tema consiste num ‘pântano para os neófitos’, se vêem obrigados a admitir que as costumeiras comparações entre o Estado de Israel e a Alemanha nazista adquirem inegável verossimilhança.

O que é triste, é espantoso, e é deplorável.

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